quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Donos de diário  receberam

R$ 1,1 bi antes de tirar  o pé

de  cobertura  sobre   HSBC


                    
                                                                           
HSBC
Empréstimo de 250 milhões de libras aos donos do Telegraph levanta novas questões sobre cobertura

Irmãos Barclay garantiram empréstimo para uma companhia que perdia dinheiro antes de repórteres do Telegraph serem desencorajados na produção de artigos críticos ao HSBC.
Thursday 19 February 2015 18.51 GMT

Os donos do Daily Telegraph asseguraram um empréstimo equivalente a R$ 1,1 bi — do HSBC para uma empresa do grupo que enfrentava dificuldades — pouco antes de repórteres do jornal terem sido alegadamente “desencorajados” a publicar artigos críticos ao banco. O Guardian descobriu.

O timing do empréstimo para a Yodel, uma empresa de entrega de pacotes de propriedade dos irmãos Barclay, levanta novas questões sobre a influência de considerações comerciais na cobertura editorial do Telegraph sobre o HSBC.

O empréstimo foi completado no dia 14 de dezembro de 2012, demonstram documentos da empresa. O ex-chefe de comentário político do jornal, Peter Oborne, alegou esta semana que houve uma grande mudança editorial no tratamento dado ao banco a partir do início de 2013.

Os documentos demonstram que Sir David e Sir Frederick Barclay tiveram de dar uma garantia financeira pessoal como segurança adicional aos credores.
As decisões editoriais do jornal sobre o HSBC foram questionadas esta semana por Oborne, que acusou o jornal de “fraudar seus leitores” em uma carta de renúncia.
Ele alega especificamente que a cobertura do Telegraph sobre o banco mudou abruptamente dois anos atrás. “A partir do início de 2013 as reportagens críticas ao HSBC foram desencorajadas”, afirmou.

A Yodel foi refinanciada na metade de dezembro de 2012 com o maior banco da Europa, o HSBC. Como garantia, o banco assumiu parte da renda de quase todo o negócio — significando que poderia assumir controle da companhia se ela não cumprisse os compromissos assumidos.

O novo empréstimo do HSBC foi usado para pagar empréstimos anteriores com o Lloyds. Os negócios da Yodel tiveram perda de £112m no ano terminado em 30 de junho de 2013. Informações da Yodel mostram uma dívida de £242m no empréstimo do HSBC no final de junho de 2013 e não há informações oficiais de que a dívida tenha sido quitada.

Procurada pelo Guardian, a família Barclay não quis comentar o empréstimo, mas uma fonte próxima a ela descartou a tese de que a cobertura do Telegraph poderia ter sido influenciada pelo empréstimo do HSBC. A fonte também indicou que as empresas da família emprestam de muitos outros bancos.
Os Barclay acreditam que muitas inverdades foram escritas sobre eles em dias recentes, mas não explicaram exatamente quais.

Oborne se afastou do Telegraph esta semana de forma pública, em protesto contra a cobertura do escândalo do HSBC. O veterano jornalista pediu uma investigação independente da linha editorial do jornal por falta de reportagens sobre o caso do HSBC.

Guardian, a BBC, o Le Monde e outras 50 empresas de mídia revelaram como o braço suiço do banco HSBC ajudou clientes ricos a sonegar impostos e esconder milhões de dólares em bens, driblando autoridades locais.

As revelações sobre as atividades bancárias de alguns dos clientes mais ricos do HSBC dominaram as manchetes da mídia britânica em semanas recentes, mas apareceram apenas brevemente no Telegraph, Oborne argumenta.

Os diretores da Yodel, que incluem os filhos de Sir David Barclay, Aiden e Howard, admitem que o negócio da entrega de pacotes passa “por mudanças rápidas”. Embora isso represente oportunidade de crescimento, há muitas empresas no ramo, levando a um “alto grau de competição”.

Dados oficiais demonstram que a empresa conseguiu ser qualificada como “ativa” para efeitos de contabilidade graças à disposição de sua empresa parente, baseada em Jersey — outra companhia do império dos Barclay chamada LW Corporation — de dar apoio financeiro. Companhias baseadas em Jersey não são obrigadas por lei a publicar balanço.

No início desta semana Oborne alegou que o HSBC suspendeu suas campanhas publicitárias no Telegraph depois que o jornal publicou uma investigação em novembro de 2012 baseada em vazamentos de contas pessoais do HSBC em Jersey.

Ele também alega que repórteres receberam ordens para destruir e-mails, relatórios e documentos relacionados à investigação. “Foi o momento chave”, Oborne escreveu.

Ele atribuiu a mudança a uma tentativa de reconquistar a conta de publicidade. Disse que tinha sido informado por uma fonte extremamente bem informada, de dentro do jornal, de que a publicidade do HSBC era de grande valor. “Reconquistar os anúncios do HSBC se tornou uma prioridade”, Oborne afirmou.

Em uma nota respondendo às acusações de Oborne, um porta-voz do Telegraph disse que não poderia comentar sobre relações comerciais do jornal, mas continuou: “Temos o objetivo de dar a nossos parceiros comerciais um amplo leque de soluções de publicidade, mas a distinção entre publicidade e nossa premiada operação editorial sempre foi fundamental para nosso negócio. Refutamos totalmente qualquer alegação em contrário. É uma pena que Peter Oborne, que por quase cinco anos contribuiu com o Telegraph, tenha decidido lançar ataque tão surpreendente e sem fundamento, cheio de imprecisões e insinuações, contra seu próprio jornal”.

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