quinta-feira, 18 de dezembro de 2014


O problema da Petrobras 



não é a propina: é o



petróleo    

Fernando Brito                                

shale
O petróleo Brent, na Europa, caiu hoje abaixo do mínimo de 60 dólares o barril de três dias atrás.
O West Texas, mercado americano, a pouco acima de 54 dólares, também o mínimo.
39% e 41% abaixo dos preços de 1° de outubro, um mês e meio atrás.
Ou quase a metade do que valiam em junho, há apenas seis meses.
Há muitas complicações nesta história, que não é explicada apenas pelo crescimento da produção de petróleo shale nos Estados Unidos, nem o desejo americano de desestabilizar, de uma só tacada, Rússia, Irã e Venezuela, seus desafetos.
Há dois interesses da Arábia Saudita (e dos seus aliados petroleiros, Qatar, Bahreim e Kuwait) em jogo.
Um deles, geopolítico, o de enfraquecer o Irã, que vinha assumindo ares de potência regional há anos.
Ou outro, do qual cada vez mais se suspeita, é o de estar  forçando uma crise na produção de shale oil e shale gas americana, cujos custos de produção, que anda pouco abaixo de US$ 70 por barril, ficaram maiores que o preço de venda de seu produto,.
Isso não é problema para  grandes empresas maduras, o que não é o caso das que extraem óleo e gás do xisto.
São investimentos recentes, cujos custos de amortização são altos (compra de terras, licenças, instalação de poços e complexos de processamento) e a estabilidade da produção de seus poços ainda está por ser conhecida, além de todos os questionamentos ambientais que sofre.
Sua produção saltou de praticamente zero, em 2007, para perto de dois milhões de barris diários este ano e por aí você calcula o nível de endividamento destas empresas.
A Bakken e a Eagle Ford, duas das maiores do segmento, experimentaram perdas de quase 50% no valor de suas ações, nos últimos dias.
As grandes petroleiras convencionais, que também têm bilhões investidos no setor, ficam de bico calado para não reduzirem a pó suas inversões nesta área do xisto.
Desde Rockfeller, a indústria do petróleo é marcada por um banditismo econômico com pouco ou nenhum limite. A dinastia da Casa de Saud na Arábia Saudita não tem métodos muito suaves, todos sabem.
Nesta história, podem crer, bandidecos como Paulo Roberto Costa não vão nem para nota de rodapé.
Por mais que tenha roubado, isso é uma migalha perto do que está em jogo para o país e que, usando este “ladrão de carreira” querem nos roubar dizendo que o pré-sal “já não é tão bom assim”.
É uma rematada tolice tratar, portanto, o desabamento dos preços do petróleo como algo que, desde já, esteja para ficar  aí por um longo tempo. Um estalo na indústria do shale americano – o que não é nada impossível – reverte, ao menos em boa parte, o quadro de baixos preços.
Como diz aquele anúncio chato: “sabe de nada, inocente!”

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