domingo, 30 de novembro de 2014

Uruguai: uma utopia para o novo século?                    
País avança em relação aos direitos civis ao mesmo tempo no qual ondas conservadoras bloqueiam agendas progressistas em países como o Brasil.

Vinicius Wu                             
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A vitória de Tabaré Vazquez no Uruguai, após Mujica enfrentar temas como drogas e união civil de pessoas do mesmo sexo, é um sopro de esperança para a esquerda latino-americana. A Frente Ampla mostra que é possível governar disputando hegemonia, debatendo valores e temas polêmicos, sem ceder ao senso comum. É um caso a ser analisado e valorizado.


O Uruguai avança em relação aos direitos civis ao mesmo tempo no qual ondas conservadoras bloqueiam agendas progressistas em países como o Brasil.

Recentemente, o Uruguai voltou a pautar o noticiário internacional em função da proposta do governo local de facilitar a entrada e a permanência, em seu território, de cidadãos dos demais países membros do Mercosul. E isso após, pelo menos, duas décadas de agendas xenófobas sendo pautadas por governos mundo afora.


Não seria nenhum exagero afirmar que a agenda das liberdades individuais está no centro dos debates sobre a democracia do século XXI. E a renovação do pensamento de esquerda passará - em grande medida - pela incorporação de uma série de temas que dizem respeito a modos de vida, comportamento, cultura e direitos individuais.

O país ao 
 sul do continente americano vai conformando uma experiência que deve ser observada com atenção pela esquerda latino-americana.


O Uruguai, certamente, não é um país perfeito e a Frente Ampla vive intensamente suas contradições. Não devemos ceder a nenhum tipo de mistificação. Idealizações já custaram muito caro à esquerda ao longo do século XX.

Mas o significado desta experiência da esquerda uruguaia - que vai promovendo transformações e disputas em torno de novos valores - sob um regime democrático pode, sim, consolidar-se enquanto uma utopia de novo tipo.

Num tempo marcado pela descrença nas Instituições e na representação política, o país pode se tornar uma referência para a juventude da Era da informação em rede, que acompanha em tempo real tudo o que ocorre no mundo.

Sem nenhuma pretensão em retornarmos ao tempo dos "modelos" e dos "faróis" da esquerda, talvez seja mesmo o caso de observarmos, com muita atenção, o que se passa na terra de Mujica e Galeano. Quem sabe assim, possamos, ao menos, caminhar em direção a novos horizontes.

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