quinta-feira, 27 de novembro de 2014

BRICS, um banco do tamanho das necessidades do desenvolvimento 

J. Carlos de Assis(*)                          logo

O leitor Motta Araújo questiona elegantemente minha "noção de grandeza" pelo fato de eu, a seu ver, superestimar o Banco dos BRICS. É que ele terá "apenas" US$ 100 bilhões de capital no meio de 36 bancos de desenvolvimento que, ainda segundo ele, existem no mundo. Certamente, raciocina, não seria um banco desse tamanho, quase insignificante, que incomodaria os gestores da geopolítica e da geoeconomia dos Estados Unidos. Por comparação, cita o Banco do Brasil, de um país só, com R$ 536 bilhões de ativos, portanto aproximadamente o dobro do capital do Banco dos BRICS.

É claro que qualquer pessoa com informação elementar sobre banco distingue capital de ativo. Mas vou aproveitar o comentário para chamar a atenção sobre a verdadeira escala do Banco dos BRICS. Um capital de US$ 100 bilhões, pelo acordo de Basileia III, possibilita ao banco emprestar nada menos do que US$ 2 trilhões. É a maior carteira de crédito bancário jamais posta à disposição de países em desenvolvimento na história. E uma quebra profunda na arquitetura do sistema financeiro internacional montada desde a Segunda Guerra para atender sobretudo os interesses dos EUA (Banco Mundial e FMI), o país hegemônico do Ocidente.

Pensar que os EUA estão indiferentes a essa iniciativa é pura ingenuidade. Já escrevi aqui, e é bom repetir, que a prioridade da grande estratégia norte-americana é isolar política e militarmente a Rússia e manter a China dentro de seu espaço nacional. Por certo que o Brasil não tem nenhum interesse específico em perturbar a estratégia americana, mas temos obrigação de buscar nosso desenvolvimento. Neste momento, estamos estagnados. Não há a mais remota possibilidade de sairmos da estagnação via acordos de livre comércio com União Europeia, EUA e mesmo a Ásia. Mas podemos buscar uma articulação industrial com a China, no âmbito dos BRICS, algo que abordarei oportunamente. O banco é a ponte para isso. E constitui a maior jogada estratégica da Presidenta Dilma, que por isso enfrenta uma feroz oposição da direita "burra" que continua na Guerra Fria, pensando com parâmetros ideológicos e não com interesses materiais.

(*) J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional na UEPB. 

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