domingo, 26 de outubro de 2014

Qual será a retribuição


para  a Abril  e  para a


Veja caso Aécio vença?

Paulo Nogueira        

Com Roberto Civita
Aécio e Roberto Civita, dono da Editora Abril
No momento em que escrevo, começo da tarde deste domingo, o resultado da eleição é incerto.
Uma coisa, no entanto, é absolutamente exata.
Caso Aécio ganhe, a Editora Abril lhe apresentará a conta – com sutileza, clareza ou como for.
Ou até silenciosamente, se a empresa entender que não é necessário nenhum gesto.
Não são apenas os grandes financiadores de campanha – empreiteiras, por exemplo — que fazem isso depois de conhecido o vencedor.
As grandes companhias de mídia também, quando contribuem com uma coisa ainda mais importante que moedas: a manipulação da opinião pública.
Num momento em que as coisas pareciam definidas para Dilma, a Veja inventou um fato novo a favor de Aécio.
Transformou em verdade irrefutável uma suposta declaração de um doleiro. O crime jornalístico e eleitoreiro teve o requinte de usar um verbo que jamais é aceito enquanto a Justiça não se pronuncia.
O doleiro não “disse”, segundo a Veja. O doleiro “revelou”.
O simples emprego do verbo “revelar” mostra a má fé da revista. Não é apenas uma agressão à democracia. É, também, um desserviço a seus leitores, sobretudo os mais ingênuos. Para estes, a alegada declaração do doleiro passa a ser uma realidade incontestável.
Aécio e a máquina plutocrata que o apoia – incluída a Globo – extraíram o máximo e mais alguma coisa da ajuda da Veja.
Para empreiteiras, a retribuição a doações vem em obras.
Para uma empresa como a Abril, vem em anúncios, compra de livros e lotes de assinaturas de revistas, financiamentos a juros maternais por bancos públicos, olhos fechados para o pagamento de impostos – tudo isso com dinheiro público, naturalmente.
Não é uma história que se encerre aí. Uma nova rodada, das grandes companhias jornalísticas, aparece na forma de uma cobertura generosa, absolutamente distante do rigor dispensado às administrações de Lula e Dilma.
A corrupção subitamente desaparece – não do país, mas do noticiário. Estatísticas torcidas passam a refletir um Brasil subitamente “recuperado”.
E assim vai.
Esta fórmula explica como um pequeno grupo ocupou o Estado brasileiro, e dele tirou e tira proveito, numa rapinagem de tal monta que nos transformamos num símbolo de sociedade desigual e injusta.
Aécio, caso eleito, não poderia vir em momento melhor para a Veja e para a Abril: o mercado está matando as revistas como mídia relevante, mas o dinheiro público faz milagres.
Para o Brasil, ao contrário, Aécio não poderia vir em pior hora.
Quando enfim políticas sociais tiram milhões da miséria, eis – caso ele se eleja – alguém do velho grupo no comando das coisas.
Paulo Nogueira
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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