quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dilma na Globo: jornalistas 

desconheciam dados

da educação
                                                                    Luis Nassif Online  imagem de hc.coelho4

Weden Alves
Na entrevista de Dilma no Bom Dia Brasil, em certo momento, a  jornalista Ana Paula Araújo lança de uma vez só um pacote de perguntas sobre educação para a presidenciável. Nenhum problema se fossem perguntas com um mínimo de base em dados reais. Vou transcrever a pergunta de forma literal, para mostrar onde os jornalistas falharam.
"Vamos falar um pouquinho também sobre educação, já que a senhora mencionou agora os programas de governo; só que, no entanto, os resultados que saíaram são decepcionantes. Saíram agora os últimos números do IDEB, que é um termômetro da educação básica, mostrando aí uma piora generalizada do ensino médio, ensino fundamental estagnado. Tivemos também o censo da educação superior, diminuição do número de universitários que se formam, redução no ritimo de crescimento das matrículas. É um quadro de crise também na educação, com estes péssimos números, depois de 12 anos de governo do PT, três mandatos. A minha perginta é: não é muito tempo para estes resultados tão ruins, numa área que é talvez a mais importante...".
No decorrer da resposta, houve duas intervenções. Mais uma de Ana Paula Araújo ("Mas tinha uma promessa de acabar com o analfabetismo, era uma promessa de campanha do presidente Lula...ainda temos 13 milhões de analfabetos"). E outra do jornalista Chico Pinheiro, com uma "informação" de que o Brasil investe pouco com relação aos países desenvolvidos, incluindo um dado sobre algo em torno de 1/3 do investimento mexicano.
Agora vamos aos problemas das perguntas e observações que parecem ter sido feitas sem o devido cuidado estatístico.
Nas séries iniciais não houve estagnação. De primeiro ao quinto ano, o Brasil saltou em nove anos da nota 3,5 no IDEB para 4,9, dentro da projeção estabelecida pelo governo. O país espera superar os 6,0 pontos até 2022, um ano-símbolo escolhido pela atual gestão. A avaliação 06 no IDEB é mais ou menos a avaliação 03 no exame internacional PISA, que é a média dos países desenvolvidos. Portanto, foi equivocada a afirmação da jornalista de que houve estagnação no ensino fundamental. 
Nas séries posteriores, de 6o a 9o ano, o ritmo foi menor, mas também evoluiu cerca de 0,8 pontos. Mas, em nenhum momento, isso pode ser visto como estagnação. Como já afirmamos aqui, em outro artigo, é plenamente possível que alcancemos os níveis almejados até 2022, nas séries iniciais e, pouco depois, nas séries posteriores do ensino fundamental. Basta que o desempenho se repita no mesmo intervalo de tempo.
Para um país que universalizou a escolarização por volta do ano de 2000, isto significaria duas décadas e meia para alcançar um nível ideal mínimo de qualidade educacional. É o tempo que foi cumprido mais ou menos por outros países que passaram pelo processo de massificação e qualificação do ensino.
O nó górdio da educação brasileira continua sendo o ensino médio, que realmente vem apresentando dificuldades na evolução. Mas é necessário compreender que a universlização do ensino médio é bem mais recente do que a do ensino fundamental, que se deu por volta do ano de 2000, como já afirmamos. Geralmente, quando se incopora novos sujeitos na escola, a média tende a reter-se devido à falta de ambientação escolar e histórico de escolarização das famílias. Foi assim como os primeiros anos do ensino fundamental na primeira avaliação em 2005: naquele ano, o rendimento era o mesmo do ensino médio hoje - ainda que depois de cinco anos de escolarização universalizada.
Portanto, é uma inverdade que houve piora nos níveis do ensino médio e estagnação no ensino fundamental. O ensino médio está sim próximo da estagnação em termos de avaliação, mas não de avanço no número de matrículas.
No pacote de perguntas, a jornalista Ana Paula Araújo inclui a redução do número de formados no nível superior, sem atentar para o fato que isso se deu graças a problemas com as instituições privadas, já que houve aumento de mátricula nas universidades públicas. No primeiro caso, só depende de mercado. No segundo, do poder público.
A pergunta sobressalente, sobre número de analfabetos, esconde o que na estatística é bem clara: a maioria dos iletrados brasileiros está em faixas etárias superiores, talvez já "imunes" a processos de alfabetização de adultos. Dos 13 milhões afirmados pela jornalista, 80% se encontram acima dos 30 anos. De 1 a 14 anos, a alfabetização estaria praticamente completada, não fosse o longo percurso que as regiões Norte e Nordeste tiveram que cumprir, mas com incrível evolução em bem pouco tempo.
A emenda da pergunta por Chico Pinheiro não poderia ser pior. O Brasil investe um terço dos países ricos porque, em média, o PIB per capita por paridade de poder de compra é de um terço daqueles países. E não é verdade que invista um terço com relação ao México. Este dado não existe. Uma atitude estranha para um dos jornalistas mais conceituados da Globo. Pelo contrário. Em relação aos 34 países da pesquisa feita pela OCDE, o país está entre os que mais investem proporcionalmente ao PIB per capita por paridade de poder de compra.
Os jornalistas da Globo arriscaram números, mostrando que não tinham dados, mas apenas afirmações com base em manchetes de jornais da própria empresa. O que remete à falta de rigor e preparo na condução de um tema e uma entrevista tão importantes.
Uma lástima.

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