sexta-feira, 22 de agosto de 2014


O ambíguo estilo de 


liderança de Marina

        
Paulo Nogueira  

Marina
Marina
Qual o estilo de Marina?
Neca Setúbal, amiga e conselheira de Marina, falou disso numa entrevista em vídeo ao jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.
Neca usou Dilma e Eduardo Campos para definir o jeito de liderar de Marina.
Nem a viva e nem o defunto foram poupados no esforço de Neca em elevar Marina.
Dilma, segundo ela, tem um “estilo masculino”. Campos era “centralizador”.
Marina, disse Neca, trabalha em “equipe”. Está num patamar diferente e superior.
Mesmo?
A biografia de Marina mostra outra coisa. Ela é o que você poderia chamar de criadora de encrencas.
Parece ter, ao contrário do que Neca disse, extrema dificuldade de trabalhar em equipe.
No mesmo dia em que Neca louvava o espírito de time de Marina, o dirigente do PSB Carlos Siqueira, que coordenava a campanha de Campos, dizia o exato oposto.
“Ela nomeou o presidente do comitê financeiro da campanha e não perguntou ao PSB”, disse ele.
“Ela que vá mandar na Rede dela”, acrescentou ele. “Como está numa instituição como hospedeira, tem que respeitar a instituição. No PSB mandamos nós.”
Siqueira está fora da campanha. E a candidatura de Marina só não está em chamas porque as expectativas de voto são efetivamente promissoras.
O cenário mais provável(embora ainda incerto), hoje, é um segundo turno entre Dilma e Marina. Aécio tende a ficar pelo caminho.
O estilo de Marina parece combinar duas coisas contrastantes. O exterior sugere humildade – os traços, as vestes, a voz.
O interior, ao contrário, insinua um caráter com grande dificuldade de trabalhar em equipe – algo que obriga a pessoa a ouvir, com frequência, não.
Pessoas com este perfil costumam, na vida corporativa, sair de empresa para empresa com frequência.
Para elas, para usar a grande expressão de Sartre, “o inferno são os outros”.
No caso de Marina, que optou pela vida pública e não executiva, a consequência tem sido pular de partido para partido.
Do PT para o PV, e deste para a Rede, com a passagem de ocasião pelo PSB, foi um pulo.
Era óbvio, vistas as coisas em retrospectiva, que para Marina se aquietar num partido ele tinha que ser seu.
É mais ou menos, para continuar na comparação corporativa, como o executivo que não gosta de ouvir ordens: ele só vai sossegar quando e se montar sua própria empresa.
Este o sentido histórico da Rede.
Marina jamais vai dizer isso, até para preservar a imagem de extrema humildade, mas está claro que ela poderia repetir o que Luís 14 afirmou em relação ao Estado: “A Rede sou eu”.
Pelas palavras de Siqueira, morto Campos e ungida ela, Marina agiu exatamente assim: como se o PSB fosse ela. Ou dela.
No passado não tão distante assim, os brasileiros tiveram um campeão de votos com características parecidas com Marina, pelo voluntarismo e pela dificuldade em se integrar a um time, ou a um partido.
Era Jânio Quadros.
Jânio foi adotado pela direita da época, alojada na UDN, para chegar ao poder.
Venceu as eleições de 1961, conforme esperado. Antes, já candidato, anunciou que renunciava à candidatura. Depois renunciou à renúncia.
Na presidência, renunciou depois de sete meses.
Cultivava, como Marina, a aura de simplicidade. Comia sanduíches de mortadela e deixava a caspa se mostrar em seus paletós baratos.
Mas, também como ela, não sabia viver em grupo.
Paulo Nogueira
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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