quinta-feira, 20 de março de 2014

O abraço do afogado de Alckmin.

E afogado sem água                           

 Fernando Brito                                     
cantareirahoje
Folha de S. Paulo vai ao ponto central da “estratégia política” de Geraldo Alckmin diante do gravíssimo risco de falta d’água em São Paulo:
“Aliados de Alckmin avaliam que, no momento em que ele explicita o pedido de apoio ao governo federal, passa a poder compartilhar com a presidente a responsabilidade por um eventual insucesso na empreitada.
Se não receber o aval da ANA (Agência Nacional de Águas) para a transposição das águas da bacia do rio Paraíba do Sul para o sistema Cantareira, Alckmin poderá dividir com o PT as críticas resultantes da crise hídrica.
Se a permissão vier, ganham os dois: Dilma terá sido solidária com o Estado, e o governador aparecerá como figura pró-ativa, ainda que estudos sobre o tema estivessem disponíveis há anos.”
Como se disse ontem, o problema do Dr. Alckmin é achar-se um esperto em meio a otários, embora otários não faltem.
O “plano” genial esbarra em um único problema: é preciso equacionar o abastecimento de água para São Paulo para daqui a meses, não apenas para daqui a dois anos, como requereriam, no mínimo, os estudos técnicos, as negociações políticas – com o Rio e com os municípios abastecidos pelo Paraíba do Sul, no Rio e no próprio Vale paulista – e por obras de grande envergadura.
O plano de captação de água do Paraíba do Sul, nas condições anunciadas – só funcionará quando o volume do Cantareira baixar a menos de 35% e o nível do rio estiver alto o suficiente para que isso não prejudique os municípios à jusante nem mesmo é “estruturante”, é para emergências.
E a emergência é agora, não daqui a dois anos.
Jaguari-Jacareí, o  principal conjunto de reservatórios do Cantareira – quase 83% do total – baixou hoje a 8,13% de seu volume útil, o que está acima (hoje, 2,92 m ) da linha das duas últimas comportas ainda submersas, o que são menos de 66 bilhões de litros, consumidos num ritmo pouco acima de 1,5 bilhão de litros por dia.
Até a semana passada, o nível caía 6 cm por dia. Agora, cai 8 cm diários. Logo serão mais, porque diminui a área e começa a haver empoçamentos.  No ritmo atual, se o reservatório pudesse chegar a 0% do volume – e dificilmente poderá, porque há problemas de pressão e preenchimento sem ar do túnel que leva suas águas – seriam 43 dias mais.  Prazo que é mais esperança do que estimativa.
Daí em diante, restam os 70 milhões de litros do Cachoeira e do Atibainha, o reservatório que começa a ser bombeado dentro de dois meses, segundo os planos da Sabesp.
Você já pode calcular sozinho o quanto isso dura.
Este é o problema que tem que ser enfrentado. Pode ser mais ou menos grave, dependendo das chuvas na cabeceira dos rios que alimentam as represas, para as quais, felizmente, até há boa previsão no final desta semana.
Mas que não vão reverter o quadro que, hoje, é gravíssimo.
E é isso que tem de se dizer à população, se tivermos governantes minimamente responsáveis.
Sejam os estaduais, sejam os federais.

Nenhum comentário: