quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Jornalistas denunciam tortura na Esplanada dos Ministérios durante ditadura militar

DÉBORA ÁLVARES                                                      


                                       
A Comissão da Memória e da Verdade do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal denunciou nesta quarta-feira, 19, a existência de centros de tortura no período da ditadura militar em prédios das Forças Armadas localizados na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Uma comitiva entregou à Subcomissão da Verdade do Senado um relatório preliminar em que estão transcritas cerca de 20 horas de depoimentos de mais de 30 jornalistas.
Para o secretário-geral da comissão do sindicato, Francisco Cláudio Sant''Anna, a partir dos depoimentos que apontam os centros de torturas em prédios que sediavam, à época, os ministérios do Exército e da Marinha, é possível concluir que os chefes do governo militar estavam envolvidos nos casos de violação aos direitos humanos. "Pelo menos quatro relatos apontam a existência, durante aquele período, de centros de tortura a menos de 500 metros do Palácio do Planalto. É uma prova cabal de que era de conhecimento da cúpula do poder a ocorrência de tortura contra jornalistas", afirmou.
O jornalista Hélio Doyle participou da audiência pública no Senado e foi um dos que revelou a utilização de prédios das Forças Armadas para torturas. "Fui levado e colocado em uma pequena sala cercada de isolantes acústicos e com vidros. Não sei quanto tempo durou, talvez algumas horas. Depois fui retirado de lá e levado para o Setor Militar Urbano. Não voltei mais àquele local, mas para mim ficou muito claro que ali funcionava um centro de detenção", descreveu. Armando Rollemberg contou ter sido encapuzado e levado a um lugar que se assemelha a uma das garagens existentes nos subsolos de prédios da Esplanada.
                                      
Sant''Anna explicou que já foram colhidas mais de 40 horas de depoimentos de jornalistas que sofreram de alguma forma com a ditadura militar. "Foram sofrimentos desde a censura, do confisco de equipamentos, da demissão, além de prisão e tortura", destacou o integrante da comissão do sindicato. No relatório, a comissão destaca que houve jornalistas sequestrados, presos, "mantidos em cárceres secretos e submetidos a torturas físicas e psicológicas, entre as quais, simulações de fuzilamento". As conclusões do sindicato, a partir dos relatos colhido, aponta o Pelotão de Investigações Criminais (PIC), ao DOI-Codi do Exército e o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) da Polícia Federal como responsáveis pelas ações em Brasília.
Após receber o relatório e ouvir relatos de alguns dos depoentes, o presidente da Subcomissão Permanente da Memória, Verdade e Justiça do Senado, João Capiberibe (PSB-AP), disse que vai colher mais depoimentos e fazer um requerimento para visitar as instalações dos prédios citados. "É um fato novo porque aproxima muito o local de tortura do centro do poder. Vamos aprovar um requerimento para uma visita acompanhados das pessoas que, eventualmente, tenham sido torturadas nesses ambientes", disse o senador. 

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