João Máximo                         

Escrevo a 104 dias da abertura da Copa do Mundo. A essa altura, como um dos brasileiros que a preferiam longe daqui (bem como os Jogos Olímpicos que se aproximam), sou obrigado a admitir que já não adianta ser contra. Todas essas manifestações que ocorrem agora, espécie de trailer do que veremos em maio e junho, são inúteis. A Copa do Mundo vai acontecer. No que diz respeito ao futebol, em grande estilo.

As manifestações são bem vindas. Que o povo demonstre seu descontentamento com o modo como o país entrou nessa. Os estádios superfaturados, os elefantes brancos, a corrupção, a subserviência à Fifa, os "legados" que não virão (quem acreditava neles?), tudo isso é revoltante. E merece que o povo vá às ruas para dizer de sua revolta. Mas, querer que a Copa do Mundo não aconteça, é tão maroto quanto inútil.
                              

É o que leva a distinguir duas formas de protesto nas ruas: a dos que ainda não querem a Copa aqui e a dos que preferem deixar claro que não gostaram de como as coisas foram e anda são feitas. Há algo de realmente maroto na primeira. Justamente por sua inutilidade. Como se uma não explícita força política estivesse por trás dos manifestantes. Sendo ano de eleições, faz sentido. No caso, o que conta é agitar, conturbar, tumultuar, atroar, quebrar, com ou sem Copa.

Essa forma de protesto geralmente é feita em ritmo de exacerbação, quando não de violência. São manifestantes ensandecidos de um lado e a polícia despreparada do outro. Nunca acaba bem. São os que nos preocupam, na medida em que, quanto mais a Copa chega, mais eles crescem. Isso sem falar na infalível cumplicidade dos "black blocs", sempre atrás de uma chance para em entrar em ação.

Já o deixar claro que não gosta nenhum pouco do que foi e ainda é feito, é um direito. Melhor pensando, é quase uma obrigação. Cada brasileiro pode e deve, do modo que lhe for possível, dizer o que sente e pensa. A Fifa pode não gostar, a polícia na certa prepara sua munição, os governantes talvez se preocupem, os responsáveis pela organização leviana e desonesta da festa que começa daqui a 104 dias é possível que temam que um dia possam pagar por isso. Mas a bronca é livre. E é bom que tenha a Copa como pano de fundo.
Foto de João Máximo  Jornalista, JOÃO MÁXIMO colaborou com quase toda a grande imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo. Escreve semanalmente no portal da ESPN/Brasil, com participação 'ao vivo' na TV.