domingo, 13 de outubro de 2013

Sistema de trens de alta velocidade faz sucesso na China                                             

 Keith Bradsher                          The New York Times           
Sistema de trens de alta velocidade faz sucesso na China












Changsha, China - A gigantesca estação construída para os novos trens de alta velocidade da China ficava quase deserta quando foi aberta, há menos de quatro anos.Entretanto, agora as coisas mudaram. Praticamente todos os trens saem lotados, embora haja partidas a cada minuto com destino a cidades do país todo. Filas longas se formam nas bilheterias sob o pé direito de 15,2 metros, com um teto de aço ondulado que paira como nuvens brancas sobre a seção de embarque. Um ambicioso programa de construção irá dobrar o tamanho da estação, que conta atualmente com 16 plataformas.

Apenas cinco anos após a inauguração do sistema de trens de alta velocidade da China, ele já transporta mensalmente quase duas vezes mais passageiros que a indústria aeroviária doméstica nacional. Com o tráfego crescendo em média 28 por cento ao ano durante muitos anos, a rede de trens de alta velocidade da China transportará mais de 54 milhões de passageiros até o início do ano que vem.

A operária Li Xiaohung, que trabalha em uma fábrica de sapatos, faz uma vez por mês o trajeto de 700 quilômetros entre Changsha e sua casa em Guangzhou. Li costumava ver a filha apenas uma vez por ano, pois a viagem demorava um dia. Agora ela volta em apenas 2 horas e 19 minutos.

Executivos como Zhen Qinan, fundador do mercado de ações na costeira  Shenzhen, vão de trem-bala a reuniões em toda a China para evitar os atrasos em aeroportos. Os trens viajam a uma velocidade de 300 quilômetros por hora e quase sempre são pontuais ou chegam mais cedo. 'Não achei que as coisas mudariam tão rápido. Os trens de alta velocidade pareciam algo estranho, mas agora fazem parte da nossa vida.', afirmou Zhen.
O sistema de trens de alta velocidade da China é uma história de sucesso inesperada. 

Economistas e especialistas em transportes o citam como uma das razões para a continuidade do crescimento da China, enquanto outras economias emergentes enfrentam problemas. Porém, o novo sistema custou caro: dívidas altas, muitas pessoas realocadas e um acidente fatal. Duas autoridades seniores foram processadas por corrupção no verão deste ano, levantando dúvidas sobre as licitações de todas as linhas de trem. Com certeza,
as linhas de trens de alta velocidade mudaram China de muitas maneiras inesperadas.

Por exemplo, os trabalhadores chineses se tornaram mais produtivos. Um artigo publicado este ano pelo Banco Mundial revelou que as cidades chinesas ligadas pela rede – mais de 100, atualmente – provavelmente experimentarão um amplo crescimento na produtividade por trabalhador. Esses ganhos ocorrem quando as empresas ficam a poucas horas de distância de dezenas de milhões de clientes, funcionários e concorrentes potenciais.

The Changsha high-speed rail station in Changsha, China, Aug. 8, 2013. Just five years after the rail system opened, it is carrying nearly twice as many passengers as the country
A high-speed train arrives at the Changsha high-speed rail station in Changsha, China, Aug. 8, 2013. Just five years after the rail system opened, it is carrying nearly twice as many passengers as the country
Oquevemos claramente é uma mudança na forma como muitas empresas passaram a fazer negócios', afirmou Gerald Ollivier, especialista em transportes do Banco Mundial em Pequim.  Os ganhos de produtividade parecem ser da mesma ordem que os ganhos econômicos combinados, utilizados como argumento em favor dos trens de alta velocidade, incluindo o tempo economizado pelos viajantes e a redução de ruídos e do consumo de combustíveis, segundo cálculos do Banco Mundial.

As empresas estão abrindo centros de pesquisa e desenvolvimento em cidades como Pequim e Shenzhen, que possuem fontes abundantes de trabalhadores jovens e com alta escolaridade, a partir de onde fazem viagens curtas para fábricas em cidades onde os salários são mais baixos e os imóveis custam menos, como Tianjin e Changsha. As empresas também passaram a customizar mais seus produtos, em função de reuniões mais frequentes com clientes de outras cidades, o que faz parte de uma tendência de aumento no valor agregado dos produtos.

Li Qingfu, gerente de vendas da Empresa de Tecnologia Têxtil Changsha Don Lea Ramie, afirmou que costumava viajar duas vezes ao ano para Guangzhou, o centro comercial ao sudeste da China. A jornada, similar em distância a uma viagem entre Boston e Washington, DC, exigia quase um dia inteiro em cada direção, subindo e descendo montanhas de trem ou de carro.

Agora, ele vai para lá quase todos os meses com a ajuda pontual dos trens-bala, que cortam as montanhas e os vales da província de Hunan e de Guangdong em pouco mais de duas horas, passando rapidamente através de túneis longos e viadutos elevados de concreto. 'Com um acesso mais frequente à minha base de clientes, sou capaz de perceber mais rapidamente as mudanças nas tendências de cores e estilos. Meu volume de pedidos aumentou mais de 50 por cento', afirmou.

O sucesso da China dificilmente poderia ser imitado no Ocidente, e não apenas porque poucos lugares teriam condições de manter o ritmo de urbanização chinês. A China possui uma população quatro vezes maior que a dos Estados Unidos e a maior parte das pessoas vive na porção mais oriental do país, em uma área similar aos Estados Unidos a leste do Mississippi. 'A não ser pela área que vai de Boston a Washington, DC, não temos corredores' com grande densidade populacional como os da China, afirmou C. William Ibbs, professor de engenharia civil da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

O programa de trens de alta velocidade da China foi acompanhado pelo programa de construção de linhas de metrô mais ambicioso do mundo, à medida que mais da metade das máquinas que cavam túneis no mundo trabalham no subsolo de grandes cidades chinesas. Isso representa um acesso fácil às estações de trem de alta velocidade a um grande número de pessoas – embora a construção da linha de metrô que leva à estação de trens-bala de Changsha tenha sido atrasada em função de um acidente fatal em um de seus túneis, um dos efeitos colaterais da pressa chinesa.

As novas linhas de metrô e trem e os novos bairros urbanos são fruto de um crescimento que depende de investimentos. Apesar dos pedidos frequentes feitos pelos líderes chineses para que o crescimento se baseie mais no consumo, o novo primeiro-ministro da China, Li Keqiang, apoiou publicamente a expansão de 9.500 quilômetros de linhas de trem de alta velocidade no verão do Hemisfério Norte deste ano. Ele afirmou que o país investiria mais de 100 bilhões de dólares no sistema de trens pelos próximos anos, especialmente nos trens de alta velocidade.

Os trens de alta velocidade permitem que os administradores de empresas do interior da China cheguem aos maiores mercados. Eles também estão chamando a atenção dos executivos estrangeiros para a busca mais refinada de fornecedores no interior da China, à medida que os salários continuam a crescer. 'Nós costumávamos ir para cima e para baixo até Guangzhou, onde nos encontrávamos com clientes europeus. Contudo, agora eles vêm até Changsha com maior frequência', afirmou Hwang Yin, executivo de vendas da Importadora e Exportadora Changsha Qilu. A única desvantagem: 'Os trens de alta velocidade andam muito lotados atualmente'.

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