quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pentecostais e outras igrejas cristãs quebram preconceito e fazem aliança

Decisão ocorre em nome da luta para garantir e aprofundar espaços de influência religiosa e política. Primeira ação se deu na Festa do Círio de Nazaré (PA)


Dermi Azevedo                                                             C a r t a   M a i o r 
Divulgação
Em nome da luta para garantir e aprofundar seus espaços de influência religiosa e política, representantes das Igrejas Pentecostais e das Igrejas Cristãs históricas (Católica Romana, Anglicana e outras), tomaram a iniciativa de fazer uma aliança estratégica com base em ações ecumênicas concretas.  O primeiro exemplo prático dessa nova fase do Cristianismo no país foi dado no último fim de semana em Belém/PA durante a festa do Círio de Nazaré, a mais popular manifestação religiosa do Brasil.

A Assembleia de Deus (que é a maior Igreja Pentecostal do país, com cerca de 15 milhões de membros) colocou à disposição da Arquidiocese Católica de Belém todo o seu serviço médico, além de 100 voluntários que ajudaram a manter organizada a multidão reunida pelo Círio. Por sua vez, a Igreja Anglicana também participou dessa manifestação religiosa e calcula que foram aproximadamente 20% os evangélicos que se integraram às procissões em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré.

Grandes mudanças

A disposição das autoridades das Igrejas Pentecostais de aprofundarem uma política de aliança com o Catolicismo é considerada tão importante que levou os pentecostais a deixarem de lado alguns dos seus principais motivos de ruptura com Roma, em séculos passados. Uma das razões da ruptura de Martinho Lutero com o Papa foi justamente a questão das imagens. O protestantismo sempre considerou como “idolatria” o culto dos santos por meio da veneração às imagens.
Esse argumento é rejeitado pelos católicos sob a alegação de que não adoram as estatuetas, mas presta culto a Deus por meio dos santos intercessores. Nesse caso, que envolve objetivos estratégicos de evangelização, o diálogo será marcado pelo pragmatismo.   

As estatísticas reforçam a escolha feita pelas igrejas. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Censo Demográfico de 2010 indicou crescimento da diversidade dos grupos religiosos no país. A proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Os católicos passaram de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010. Embora o perfil religioso da população brasileira mantenha, em 2010, a histórica maioria católica, essa confissão religiosa vem perdendo adeptos desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Até 1970, a proporção de católicos variou 7,9 pontos percentuais, reduzindo de 99,7%, em 1872, para 91,8%.

Esta redução no percentual de católicos ocorreu em todas as regiões, mantendo-se mais elevada no Nordeste (de 79,9% para 72,2% entre 2000 e 2010) e no Sul (de 77,4% para 70,1%). A maior redução ocorreu no Norte, de 71,3% para 60,6%, ao passo que os evangélicos, nessa região, aumentaram sua representatividade de 19,8% para 28,5%.

Entre os estados, o menor percentual de católicos foi encontrado no Rio de Janeiro, 45,8% em 2010. O maior percentual foi o do Piauí, 85,1%. Em relação aos evangélicos, a maior concentração está em Rondônia (33,8%), e a menor no Piauí (9,7%).

Paralelamente, consolidou-se o crescimento da população evangélica, que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Dos que se declararam evangélicos, 60,0% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados. A pesquisa indica também o aumento do total de espíritas, dos que se declararam sem religião, ainda que em ritmo inferior ao da década anterior, e do conjunto pertencente às outras religiosidades.

Em 30 anos, de 6,6% para 22,2%

Os evangélicos são o segmento religioso que mais cresceu no Brasil no período intercensitário. Em 2000, eles representavam 15,4% da população. Em 2010, chegaram a 22,2%, um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas (de 26,2 milhões para 42,3 milhões). Em 1991, este percentual era de 9,0% e em 1980, 6,6%.

Entre os espíritas, que passaram de 1,3% da população (2,3 milhões) em 2000 para 2,0% em 2010 (3,8 milhões), o aumento mais expressivo foi observado no Sudeste, cuja proporção passou de 2,0% para 3,1% entre 2000 e 2010, um aumento de mais de 1 milhão de pessoas (de 1,4 milhão em 2000 para 2,5 milhões em 2010). O estado com maior proporção de espíritas era o Rio de Janeiro (4,0%), seguido de São Paulo (3,3%), Minas Gerais (2,1%) e Espírito Santo (1,0%).

O Censo 2010 também registrou aumento entre a população que se declarou sem religião. 8,0% dos brasileiros se declararam sem religião em 2010. Em 2000 eram quase 12,5 milhões (7,3%), ultrapassando os 15 milhões em 2010 (8,0%). Os adeptos da umbanda e do candomblé mantiveram-se em 0,3% em 2010.

Com proporções de 65,5% para homens e 63,8% para mulheres, os católicos são, junto com os sem religião (9,7% para homens e 6,4% para mulheres), os que apresentam mais declarantes do sexo masculino. Nos demais grupos, as mulheres são maioria.

A proporção de católicos também foi maior entre as pessoas com mais de 40 anos, chegando a 75,2% no grupo com 80 anos ou mais. O mesmo se deu com os espíritas, cuja maior proporção estava no grupo entre 50 e 59 anos (3,1%). Já entre os evangélicos, os maiores percentuais foram verificados entre as crianças (25,8% na faixa de 5 a 9 anos) e adolescentes (25,4% no grupo de 10 a 14 anos).

Quanto ao perfil por cor ou raça, as proporções de católicos seguem uma distribuição aproximada à do conjunto da população: 48,8% deles se declaram brancos, 43,0%, pardos, 6,8%, pretos, 1,0%, amarelos e 0,3%, indígenas. Entre os espíritas, 68,7% eram brancos, percentual bem mais elevado que a participação deste grupo de cor ou raça no total da população (47,5%). Entre os evangélicos, a maior proporção era de pardos (45,7%). A maior representatividade de pretos foi verificada na umbanda e candomblé (21,1%). No grupo dos sem religião, a declaração de cor mais presente também foi parda (47,1%).

Consequências

Se for levado adiante, como planejam algumas dessas igrejas, o pacto ecumênico trará serias consequências sociais, culturais e políticas. A primeira delas resultará no fortalecimento do papel das Igrejas Pentecostais e das demais Igrejas Cristãs no campo da sociedade civil. Os pentecostais deverão mudar gradativamente a sua imagem, atualmente marcada pelo selo do conservadorismo, tanto no plano moral e ético, quanto no aspecto político.               

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