sexta-feira, 18 de outubro de 2013




Para ler as entrelinhas do Datafolha

Fernando Brito                                                     

pesquisasdataf

Sem discordar do meu companheiro Miguel do Rosário, e concordando plenamente com ele de que nada é definitivo, minha visão sobre a pesquisa divulgada no fim da semana passada pela Folha de São Paulo se volta para outros pontos.

Talvez, até, pelos anos a mais que tenho de janela – com as dores nas costas correspondentes… –   assistindo o jogo das pesquisas.
Quem acompanha eleições há muito tempo sabe que o Datafolha não fabrica índices nas pesquisas, apenas “ajeita” as pesquisas para, dentro da realidade eleitoral, corresponderem àquilo que pensam ser mais conveniente. No final, quando se aproximam as eleições, tudo se acerta.
Ainda não vi, porque não está disponível, o mapa completo da pesquisa, mas nem é preciso, para observar onde está o “gatilho” desta vez.
Nas demais pesquisas, o levantamento de campo se dava em dois e até três dias. Foram dois na pesquisa de julho e três na de agosto.
Nesta, agora, apenas um, embora o tamanho da amostra seja basicamente o mesmo da do mês passado.
E é obvio que a pesquisa, a primeira depois da data fatal de filiação partidária, estava prevista desde muito antes, porque todos sabiam poderia haver duas novidades: Marina deixar a disputa, por falta de partido, ou Serra entrar diretamente nela, trocando o PSDB pelo PPS.
A rapidez não foi, portanto, um improviso, como não foi ao acaso, a escolha da sexta-feira para a coleta, e cedo, porque os dados precisavam ser auditados e tabulados para a edição nacional, que fecha às 21 horas.
Porque na sexta, apenas?
Simples, porque na quinta à noite Campos e Marina ocuparam uma rede de televisão, se alternando num “lança que eu chuto” e outro “levanta que eu corto”.
Ou seja, um “recall” fresquinho de rede nacional de TV, isso depois de uma semana inteira de superexposição midiática.
Logo, a pesquisa Datafolha deve ser, toda ela, lida como um “ainda assim” antes.
Ainda assim, Dilma sobe em relação à pesquisa anterior em qualquer das situações propostas aos entrevistados.
Ainda assim, diz o próprio jornal “os números de ontem sugerem que o espólio eleitoral de Marina foi dividido de forma quase idêntica entre Dilma, Aécio e Campos. A petista teria herdado 7 pontos; o tucano, 8; o socialista agora apoiado por Marina, 7″.
Portanto, ainda assim, como rede de TV, e “overmídia”,  menos de um terço dos possíveis eleitores de Marina vão para Campos, apesar de, em tese, nao faltar informaçao sobre o (será mesmo?) apoio da ex-senadora ao pernambucano.
A grande novidade da pesquisa, esta “vindo do além, é que Serra é apresentado, pela primeira vez, como um candidato com viabilidade significativamente maior do que Aécio e, mais ainda, aquele que garantiria o segundo turno que, de outra forma, teria a “fatura liquidada” com a vitória de Dilma.
Essa, sim, cai como gasolina na fogueira de ambição de Serra, que também já tinha estes indicadores e saiu das sombras, pela primeira vez, nesta semana de “marinada”.
Tem números para evocar o fantasma de 32 e reacender o “fator São Paulo” que é, como dizem os camponeses uruguaios, “donde lo hay”.
Portanto, uma leitura atenta destes dados, filtrada pelo “ainda assim” que fica evidente, mostra que Aécio e Campos saíram como os derrotados desta rodada. E Serra e Marina prontos para continuar a exercer as pressões sobre seus “candidatos postos” pelos métodos que sabemos.
E Dilma, ainda sem Lula ter acendido o farol de seu prestígio para guiar o eleitor, segue tranquila, com lastro para enfrentar a tempestade de mídia que vem pela frente.
O Datafolha? O Datafolha, perdoem-me o chulo do ditado, só comprova o jocoso chiste sobre a estatìstica ser como a minissaia: mostra tudo, mas encobre o essencial.
Por: Fernando Brito

Nenhum comentário: