terça-feira, 22 de outubro de 2013

Dilma sanciona Mais Médicos e entrega registro a médico cubano                                  

Presidenta pediu desculpas ao cubano Juan Delgado, hostilizado por médicos cearenses durante sua chegada ao Brasil, e entregou a ele o primeiro registro.

Najla Passos                                  
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Brasília - Em uma cerimônia marcada pelo simbolismo e pelos recados diretos aos adversários do seu governo, a presidenta Dilma Rousseff sancionou, nesta terça (22), o programa Mais Médicos, que irá levar 13 mil médicos brasileiros e estrangeiros às regiões mais carentes do Brasil. Nenhum representante das entidades médicas brasileiras compareceu ao evento, disputadíssimo por lideranças políticas de todas as esferas e partidos, além dos médicos estrangeiros que, em uma mistura rara de sotaques, chegaram a entoar um “Olê, olá. Dilma, Dilma”.

Já na sua entrada, a presidenta foi ovacionada pelas centenas de perfis de jalecos brancos que lotaram o salão principal e as galerias do Palácio do Planalto, alguns deles portando as bandeiras do Brasil e de Cuba, outros mirando os flashes de suas câmeras e celulares em direção a ela. Dilma retribuiu o carinho: iniciou seu discurso pedindo desculpas públicas, em nome de seu governo e do povo brasileiro, ao médico cubano Juan Delgado, hostilizado por médicos brasileiros durante sua chegada à Fortaleza (CE), em agosto. “Do ponto de vista pessoal, em nome do governo e, eu tenho certeza, do povo brasileiro, eu peço nossas desculpas a ele", ressaltou.

Das mãos de Dilma, Juan recebeu o primeiro registro profissional impresso pelo Ministério da Saúde que, com a sanção da lei, passou a ter prerrogativa exclusiva de concessão das licenças, antes restritas aos conselhos regionais de medicina. Designado para atuar em uma aldeia indígena do Maranhão, o cubano estava impedido de trabalhar, há dois meses, em função do boicote promovido pelas entidades médicas. “Fiquei muito emocionado, porque não sabia que seria homenageado pela própria presidenta do Brasil e nem que já sairia daqui com o registro”, disse Juan à Carta Maior, após o encerramento da cerimônia.

Emoção tão forte quanto, mas de teor inverso, o cubano afirma ter sentido ao ser submetido ao “corredor polonês” dos médicos brasileiros, que lhe chamavam de “escravo”, já no seu primeiro contato com o país. “Me senti muito humilhado e muito assustado também. Não estamos acostumados com isso porque em Cuba não há racismo, não há preconceito de classes”, resumiu ele. Ele garante, porém, que o contato direto com o povo brasileiro já o fez superar o trauma inicial. “Os brasileiros, no geral, são muito calorosos e receptivos. Aquele foi um evento isolado”, destacou.

A presidenta Dilma também agradeceu a todos os outros estrangeiros que deixaram seus países e suas famílias para ajudar o Brasil a enfrentar o desafio de melhorar sua saúde pública. E agradeceu, ainda mais, aos médicos brasileiros que, à revelia das suas entidades representativas, atenderam ao apelo do governo e somaram seus esforços ao Mais Médicos. "Esses médicos brasileiros compreendem uma parte generosa e competente do país”, destacou.

De acordo com ela, o Mais Médicos veio para mudar definitivamente o quadro de acesso desigual à saúde. “Até o final do ano, a meta é atender 23 milhões de brasileiros. Até abril de 2014, quando o programa contará com um total de 13 mil médicos, nós queremos cobrir 46 milhões de brasileiros com atendimento médico de qualidade”, reforçou.

Sem conseguir disfarçar seu contentamento, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez um balanço do primeiro mês do programa e atacou seus opositores. Conforme ele, só em setembro, o Mais Médicos realizou mais de 320 mil consultas e distribuiu medicamentos para 13 mil pessoas que, até então, não tinham nenhum ou tinham um acesso muito precário à saúde.

Também se dirigiu ao cubano Juan para prestar solidariedade aos estrangeiros que sofreram preconceito no país. “Aquele corredor polonês que te recebeu em Fortaleza não representa o espírito da população e nem da maioria dos médicos brasileiros”, acrescentou.

Padilha criticou os médicos brasileiros que desdenham a importância da saúde preventiva. “O Mais Médicos vai ajudar a mudar uma certa mentalidade que ainda existe no país de que medicina de qualidade só se faz em hospital de alta complexidade e que medicina só é acessível para uma parcela da população”. E rechaçou a oposição: “eu estranho alguns que dizem que o Mais Médicos é um programa eleitoreiro, porque a solicitação foi de prefeitos de todos os partidos”.

Para o ministro, o Mais Médicos não irá resolver todos os problemas da saúde pública, mas só o debate gerado por ele na sociedade vai ajudar o país a avançar em muitos aspectos. “Desde a perda dos R$ 40 bilhões da CPMF, não discutíamos novas formas de receita para a saúde pública. Agora, conseguimos aprovar 25% dos recursos do Pré sal e estamos discutindo a vinculação de parte das emendas impositivas”, justificou.

Prefeito do município de Granja (CE), Romeu Altigueri deu um depoimento fundamental sobre a importância do programa. “No início do ano, recebi a prefeitura com onze postos de saúde, mas apenas um médico, que atendia três vezes por semana, e só no período da manhã. Ou seja, apenas 6% da nossa população, que é de 55 mil habitantes, tinha cobertura de saúde. Hoje, temos doze médicos e a cobertura já é de 66% e, até 2014, será de 100%. Isso não representa só uma mudança: é uma verdadeira revolução”, afirmou.



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