sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Querem provocar amnésia coletiva nos brasileiros, diz João Sicsú


Luiz Carlos Azenha                                    VIOMUNDO                                             

                                          

O livro acabara de ser escrito quando explodiram as manifestações de junho de 2013, inicialmente em São Paulo.
O autor, economista João Sicsú, doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro — onde leciona — não precisou alterar o texto. Pelo contrário: segundo ele, o conteúdo já apontava para a nova pauta dos trabalhadores e da sociedade brasileira. Os consumidores agora querem ser cidadãos plenos e, portanto, exigem serviços públicos de qualidade.
Porém, depois das conquistas dos últimos dez anos, obtidas como resultado de um pacto em que tanto trabalhadores quanto capitalistas ganharam, Sicsú acha que “a nova pauta exige enfrentamento”.
Exemplo? Para melhorar o serviço público de saúde, será preciso enfrentar o corporativismo e os interesses das grandes empresas de saúde privada.
Sicsú contesta a ideia de que falta dinheiro ao Estado brasileiro para atender às demandas da população. É preciso, isso sim, realocar os recursos — reduzindo, por exemplo, o pagamento de juros da dívida interna.
O livro “Dez Anos que Abalaram o Brasil, que está chegando às livrarias, é um balanço das mudanças econômicas que aconteceram no Brasil desde o início do governo Lula.
Para o autor, o gráfico acima, que aparece na página 62, é essencial para entender a profundidade das mudanças.
Sicsú acha que o que ele expressa é mais relevante até mesmo que os dados do Índice de Gini, que registra aumento ou diminuição da desigualdade entre os trabalhadores.
Já a relação entre massa salarial/Produto Interno Bruto é um raio X do bolso dos brasileiros.
E o gráfico acima comprova que, se os capitalistas ganharam muito dinheiro sob Lula, os trabalhadores ganharam relativamente mais.
Em 2009 os salários passaram a representar mais da metade do PIB, 51,4%.
O balanço que Sicsú colocou em livro é uma tentativa de evitar que aconteça o que parece desejar a elite brasileira, que se manifesta diariamente através de sua mídia: apagar a história econômica da última década, ou atribuí-la apenas à continuação das políticas de Fernando Henrique Cardoso e sua turma.
O leitor Antonio Machado detectou isso num recente artigo do presidenciável Aécio Neves, na Folha de S. Paulo.
Levando em conta que fiz a entrevista com João Sicsú instalado no bairro do Higienópolis, em São Paulo, incorporei uma entidade tucana e fiz algumas perguntas provocativas a Sicsú.
Exemplo: não é verdade que FHC debelou a inflação e abriu as portas para o crescimento da era Lula?
Sicsú reconhece a importância do controle inflacionário, mas situa historicamente o que aconteceu no Brasil com esforços paralelos que também ocorreram na Argentina e no Equador.
Afirma que o controle da inflação não teve as repercussões sociais que pretendiam os presidentes dos três países, tanto que Fernando De La Rua foi expulso da Casa Rosada, o equatoriano Lucio Gutiérrez fugiu de helicóptero e Fernando Henrique Cardoso sofreu derrota política fragorosa.
Quem assentou as bases para um verdadeiro crescimento com estabilidade, argumenta Sicsú, foram justamente os governos de coalizão liderados pelo PT.
Não por acaso, apagar a memória do sucesso econômico deles é fundamental para o futuro do PSDB, diz o autor: “São anos que não interessam às elites brasileiras. O povo apareceu. Teve emprego e renda. Isso transformou os aeroportos, por exemplo, em espaços ‘desconfortáveis’”.
"O Brasil, afinal, deixou de ser um país organizado apenas para servir às elites", argumenta João Sicsú.
Clique no 'podcast' abaixo para ouvir toda a entrevista:     

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