quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A nova etapa do Mensalão  

tem que corrigir injustiças 


Mudaram inteiramente as circunstâncias desde o espetáculo circense de 2012.


Paulo Nogueira                                          DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO                    
Sede do STF, em Brasília
Sede do STF, em Brasília
O Mensalão volta à agenda.
Mas sob circunstâncias tão diferentes das do ano passado que pode ser chamado desde já de Mensalinho.
Joaquim Barbosa, por exemplo, é outro.
Para exercer seu papel de juiz severo e impiedoso, ele tinha que ser, como Robespierre, incorruptível. Ou, para trazermos para os dias de hoje, um Mujica.
Mas os meses mostraram um JB bem longe da imagem projetada pela mídia. Reforma de 90 000 reais apenas nos banheiros do apartamento funcional bancado pelo contribuinte, uso do avião da FAB, relações de nepotismo cruzado com a Globo, empresa de araque em Miami para comprar um apartamento para fugir de impostos, mentalidade recalcada ao falar de coisas de décadas atrás como a reprovação que sofreu ao se candidatar ao Itamaraty.
E acima de tudo: um homem que os 99% enxergam com alguma coisa que varia entre a indiferença, a reprovação e o desprezo.
Vocês se lembram das máscaras de JB que iam arrasar no carnaval, segundo a mídia. Vasculhe as fotos carnavalescas e tente encontrá-las.
Procure achar JB também nas pesquisas eleitorais. O povo não é bobo. JB foi inteiramente abduzido pelo 1%. Um Brasil sob Serra ou sob ele seria fundamentalmente o mesmo. O combate à desigualdade sumiria da agenda governamental.
Outros integrantes do STF também se desmoralizaram. Fux, por exemplo. Ficamos sabendo como ele correu atrás de Dirceu para conseguir apoio para chegar ao Supremo.
Ficamos sabendo também do espetacular conflito de interesses que ele ignora ao ter relações tão próximas com o escritório de advocacia de Sérgio Bermudes. Sem nenhuma cerimônia ele ia aceitando uma superfesta de aniversário bancada pelo escritório.
Veteranos como Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello já estavam desmoralizados antes do Mensalão, e apenas ficaram mais ainda depois.
Desde a primeira etapa do julgamento, saiu também de cena a figura patética de Ayres de Brito, que conseguiu escrever o prefácio de um livro de Merval Pereira sobre o Mensalão sem se questionar sobre a ética repulsiva que existe quando o judiciário e a mídia se enlaçam e deixam de se fiscalizar.
Chegaram também ao STF dois juízes novos, aparentemente pouco entusiasmados com o desempenho do Supremo no circo-julgamento de 2012.
O clima, lá para trás, era dramático. Todos lembramos a narrativa tensa de Mônica Bérgamo, na Folha, ao contar um encontro com Dirceu em que ele estava com uma mala preparada para a cadeia.
Cadeia, a esta altura, é absolutamente improvável.
Por coisas como a esdrúxula aplicação nacional da Teoria do Domínio dos Fatos, consolidou-se entre os brasileiros a percepção de que o julgamento do Mensalão foi, fundamentalmente, injusto.
E agora se abre a oportunidade de reparar o erro e fazer um caso abjetamente manipulado terminar numa justa, bem-vinda pizza.

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