sexta-feira, 28 de junho de 2013

"Vamos virar o jogo nas ruas e praças"


   
                                         5º grande ato (17.06) pela redução da tarifa em São Paulo, Brasil. Foto: Schincariol e Clara F. Figueiredo

Raimundo Bonfim                                      Viomundo       

O presente processo histórico, longe de estar terminado, e como necessidade urgente frente aos rumos tomados na última semana, nos permite formular uma análise parcial e nos impele a contribuir com a formulação de uma linha de ação para a esquerda.

Boa parte do que se constituiu como campo progressista e de esquerda desde o reacenso dos movimentos populares, sindicais e estudantis no fim dos anos 70 se encontra num impasse. O fato de milhares de brasileiros saírem às ruas cobrando, entre outras pautas, a garantia da qualidade do serviço público e ética na política – como historicamente fizemos – poderia ser um fato a ser comemorado. Teriam as massas finalmente “acordado” e encampado a nossa pauta histórica?

Para além do reclamo da qualidade dos serviços públicos, o caos do transporte público e da mobilidade urbana, as manifestações colocaram em xeque as formas tradicionais de participação política e social, como as conferências e conselhos não deliberativos, preocupação essa já alertada por setores da academia e de movimentos populares.
Infelizmente, o descompasso com a realidade e a estratégia meramente eleitoral levou parte da esquerda a assistir dos gabinetes o atual movimento. Encastelada nos palácios e estruturas administrativas e burocráticas do capitalismo brasileiro, assiste hoje, com preocupação e perplexidade, a “voz das ruas” da qual nunca deveria ter deixado de ser parte.

As manifestações de massa demonstram que apesar do inegável processo de ascensão social experimentado nas últimas décadas, em especial com relação à melhoria de vida por meio do consumo, o Brasil ainda é um país com enorme desigualdade social.
O pragmatismo que levou a esquerda e a frente popular a ter como aliados figuras nefastas como Maluf (o qual aparece recentemente na TV com seu velho bordão “Rota na rua”), Sarney, Renan, Collor, etc. faz com que os governos dirigidos diretamente ou em conjunto com a burguesia sejam os alvos da insatisfação popular.

Porém, e mais preocupante, o foco hoje não recai no “Fora…” quem quer que esteja no comando, e sim na negação indeterminada da política. Esta despolitização não pode ser atribuída somente à influência (importante, frise-se) dos meios de comunicação, mas à própria construção – ou melhor, falta – da noção de cidadania nos últimos 10 anos “que mudaram o Brasil”.

O fenômeno denominado lulismo enfraqueceu a atuação política dos movimentos sociais e populares e desprezou o papel dos partidos políticos programáticos em prol do personalismo e com isso esvaziou ou cooptou organizações da classe trabalhadora.
Nunca deveríamos ter saído das ruas e praças. Foi grande ingenuidade imaginar que elas seguiriam vazias para sempre. Agora vemos a direita largar na frente na disputa pelo conteúdo das mobilizações em curso. E o pior dos mundos é perdê-la nas ruas. Em algumas cidades importantes, as bandeiras vermelhas e militantes foram “expulsos” e agredidos nos atos, em ações orquestradas por grupos da ultradireita (inclusive neonazistas e fascistas) com apoio da cobertura parcial da mídia, que tem patrocínio público.

Mais do que traçar estratégias para blindar o Governo Federal e outras esferas de poder, urge que a esquerda e os movimentos populares disputem os rumos das manifestações. Para tanto, é necessária ampla unidade com a conformação de uma frente em defesa de nosso direito de liberdade organização.

A base de nossas entidades tem que ser posta em movimento. Ela é o elemento chave para virarmos o jogo para a esquerda, sob pena de mais uma vez construírem por cima um pacto de “salvação”, como ocorreu todas as vezes que o andar de baixo se movimentou e foi às ruas.

(*) Raimundo Bonfim é advogado e coordenador geral da Central de Movimentos Populares do Estado de São Paulo.

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