domingo, 23 de junho de 2013

Muito além dos centavos

Algo mais do que a redução da tarifa de ônibus
Carta Capital                                                                                              Maurício Dias
                                                                                                                                                    Mídia Ninja
                          

Protestos nas ruas, com ou sem violência, sempre são danosos aos governantes. Manifestações populares são comuns à democracia

Dilma precisa avançar e criar nova agenda inspirada, inclusive, em certas reivindicações de um movimento social confuso e errático.

O veto ao aumento das passagens nos transportes urbanos, estopim do movimento que se alastrou de São Paulo para outros pontos do País, foi atendido. Esse sucesso inicial pode ter impacto na mobilização e deixá-lo, por outro lado, numa encruzilhada. Avançamos ou nos retiramos?

Mas quem pensará isso se não há líderes?

A presidenta Dilma, diante da força numérica da mobilização, também está diante de fatos novos e precisa, por isso, criar e conduzir outra agenda de governo. Para tanto pode avançar apoiada em sinalizações difusas de manifestantes confusos e erráticos. Foram eles, de qualquer forma, que botaram o bloco na rua e exibem cartazes como esse que resvala no mau gosto: “Enfia os 20 centavos no SUS”. Esse outro não é menos sugestivo: “Queremos educação padrão Fifa”.

Quem nega que Ensino e Saúde são pautas prioritárias no Brasil? Há preocupação intensa, bem visível, em ligar as análises das marchas realizadas nas principais capitais brasileiras com as vaias à presidenta Dilma Rousseff na abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Nesse cenário, ganhou força a ­divulgação de pesquisas indicando queda expressiva na aprovação do governo.

Emergiu, paralelamente, um aumento da inflação que mexeu com velhos fantasmas da classe média.Os números governam a política. Esses, divulgados agora, ajudam, por exemplo, a manter viva a esperança de alterar o rumo da disputa presidencial de 2014, que aponta vantagem folgada para a reeleição de Dilma.

Protestos nas ruas, com violência ou sem violência, sempre são danosos aos governantes. Ônus do poder. A mídia conservadora sobrevoa o assunto, como urubu sobrevoa carniça, e se encarrega de estimular os jovens com a bandeira, em frangalhos, da marcha pacífica.

Manifestações populares são comuns à democracia. Machado de Assis, mesmo emparedado por uma elite autoritária e reacionária, percebeu e estimulou as liberdades oferecidas pelo, então, novo regime republicano, em crônica de 1892:

“A liberdade não é surda-muda nem paralítica. Ela vive, ela fala, ela bate as mãos, ela ri, ela assobia, ela clama, ela vive da vida”.

O pacato Machado não apoiaria violência. Meditaria, porém, sobre o bom comportamento, incentivado pela TV Globo, em manifestações legítimas nas ruas.

A República está coalhada de protestos: “Revolta da Vacina” (1904), “Revolta da Chibata” (1910), “Revolta das Barcas” (1959). Essa última, em Niterói (RJ), teve a força de levante popular motivado pelo custo da passagem e pelo péssimo serviço oferecido aos usuários. Tal como agora.

Nos anos 1960, jovens e velhos foram para as ruas com a bandeira das reformas políticas. Nos anos 1970, o fato estimulador era a ditadura. Em todos esses movimentos, porém, a política era o guia. Esse fator não aparece claramente agora.

Os manifestantes combatem politicamente com a suposição de que não fazem política. Logo, logo, no entanto, vão descobrir que, politicamente, estão a favor de alguém ou contra alguma coisa.

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