quinta-feira, 16 de maio de 2013


POBRES ACESSAM MAIS INTERNET. QUE HORROR!

No Brasil como um todo, a inclusão digital mais do que dobrou no período pesquisado, subindo de 20,9% a 46,5%.                             Conversa Afiada
 Jornal O GLOBO:
Com mais renda e emprego, acesso à internet dá salto entre os mais pobres, mostra IBGE

Número de internautas supera pela primeira vez um terço da população nas regiões Norte e Nordeste Quantidade de estudantes de escola pública conectados aumenta 156% entre 2005 e 2011 Mulheres já têm mais celulares do que os homens

RENNAN SETTI 
RIO - O avanço da renda e do mercado de trabalho nos últimos anos proporcionou um salto no acesso à internet entre os brasileiros mais pobres. Habitantes de estados de Norte e Nordeste e famílias com renda inferior a um quarto de salário mínimo per capita experimentaram processo acelerado de inclusão digital entre 2005 e 2011, mostram dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE como parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). O número de estudantes de escola pública com acesso à rede aumentou 156% no período, atingindo dois terços desse grupo. Essa mesma população, no entanto, continua sendo maioria entre os quase 90 milhões de brasileiros com dez anos ou mais que jamais travaram contato com a rede.
No Brasil como um todo, a inclusão digital mais do que dobrou no período pesquisado, subindo de 20,9% a 46,5%. Mas foi nas regiões Norte e Nordeste que houve maior avanço, superando um terço dos habitantes pela primeira vez. Na primeira, apenas 11,7% da população era internauta há oito anos; em 2011, a fatia subiu para 35,4%, chegando a 4,7 milhões de pessoas com mais de dez anos. Entre os nordestinos, a proporção de internautas cresceu de 11,9% para 34%, somando 15,4 milhões.
Alagoas quintuplica acesso e saiu da lanterna
São dessas regiões os dez estados onde a população de conectados mais se expandiu. O maior destaque foi Alagoas, que quintuplicou seu contingente de internautas em seis anos, para 903 mil. Com isso, a penetração da rede entre os alagoanos aumentou de 7,6% para 34,3%, tirando o estado da lanterna no ranking. Mas é lá que fica a quinta pior taxa de acesso no país. Outro destaque foi Roraima, que aumentou sua população de internautas em 346%, saindo da 20ª para a nona posição. É o único estado das regiões Norte e Nordeste com taxa de acesso maior que a média brasileira, alcançando 48,1% em 2011.
Apesar dos avanços, estados nordestinos e do Norte continuam ocupando os dez últimos lugares da lista, com a penetração da rede não atingindo um terço da população em três deles: Pará (30,7%), Piauí (24,2%) e Maranhão (24,1%). Lidera o ranking o Distrito Federal (71,1%), puxado pelos indicadores de renda e trabalho favoráveis de Brasília. Depois vêm São Paulo (59,9%) e Rio, cuja população internauta cresceu de 26,5% para 54,5%.
Em 2005 a gente estava começando a sair daquela recessão de 2003, e, em 2008, estávamos naquele momento de aumento do emprego formal e da renda. A população que passou a ganhar mais e foi beneficiada pelo maior acesso a crédito nesse período passou a usar a rede, ou porque comprou um computador ou porque começou a trabalhar avaliou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Dados não podem ser comparados com os de outros países
A Pnad é uma pesquisa por amostragem que, em 2011, visitou mais de 146 mil domicílios em todo o Brasil. No estudo, são considerados internautas aqueles que acessaram a internet, por computador desktop ou laptop, pelo menos uma vez nos três meses anteriores às entrevistas. Como as pesquisas internacionais investigam o acesso nos últimos 12 meses, os dados do IBGE não podem ser comparados com os de outros países. O instituto planeja ajustar sua metodologia ao padrão internacional na próxima edição da Pnad, que será divulgada no fim deste ano, quando também deve considerar o acesso à internet por celular e tablet.
O grupo de estudantes de escolas públicas é outro cuja inclusão digital deu saltos nos últimos anos. Em 2005, menos de um quarto (24,1%) dos alunos da rede era de internautas que não necessariamente acessaram a rede na escola. Em 2011, a fatia aumentou para 65,8%, representando a inclusão de 11,7 milhões de estudantes. Na região metropolitana do Rio, a internet já está disponível para 78,7% dos alunos de escolas municipais, estaduais e federais; a maior taxa é na Grande São Paulo, com proporção de 87,8%. Por outro lado, no Maranhão, menos de um terço dos estudantes da rede pública (30,7%) é internauta.
Prova de que a inclusão digital acompanha a renda, entre os estudantes da rede privada o acesso à rede é praticamente universalizado, atingindo 96,2%. No Paraná, a penetração chega a 99%. Mais uma vez, Maranhão está na lanterna, com 14,8% de alunos de escolas particulares ainda sem acesso.
1/3 dos que cursam nível médio ainda excluído digital
Mas a inclusão cresce com força mesmo entre aqueles com pouca instrução. De 2005 a 2011, a penetração da internet entre os com menos de quatro anos de estudo subiu de 2,5% para 11,8%. No mesmo período, a fatia aumentou de 76,1% para 90,2% no grupo com ao menos ensino médio completo. Apesar disso, quase um terço (28,5%) daqueles que estão no ensino médio ou o deixaram incompleto não navegam na rede embora, em 2005, o passivo fosse o dobro (57,3%).
Jovens do ensino médio são os que mais acessam a rede, por conta das exigências do estudo e das redes sociais. Mas um terço dessa população ainda está fora da internet, o que diz muito sobre a qualidade do ensino afirmou Azeredo.
As pessoas com menor renda continuam sendo aquelas com menor fatia de internautas. Mas também é nesses grupos que o acesso mais cresce. Entre as pessoas que vivem em domicílios com renda mensal per capita abaixo de um quarto do salário mínimo, por exemplo, a disponibilidade da rede cresceu de 3,8%, em 2005, para 21,4%, em 2011. Nas regiões mais ricas Sudeste, Sul e Centro-Oeste essa fatia ultrapassa metade da população com essa renda.
Idosos cada vez mais conectados
Mas não é apenas a renda que determina o acesso à internet: 62,6% da população com renda domiciliar per capita entre três e cinco salários é internauta, fatia maior do que os 57,5% no grupo com mais de cinco salários. Isso acontece porque essa população mais abastada é mais velha, e a idade está bastante associada à inclusão digital.
É o efeito geração: gente que passou pela vida estudantil quando ainda não havia internet e talvez jamais seja incluída avaliou o coordenador do IBGE. Mas a população mais velha está acessando a internet cada vez mais. São pessoas que hoje precisam, por exemplo, enviar a declaração do Imposto de Renda e o banco pelo computador.
De fato, o acesso à rede entre aqueles com 50 anos ou mais saltou de 7,3% para 18,4%. O número de internautas nesse grupo pulou para 8,1 milhões em 2011, um aumento de 222% na comparação com 2005. Mas os jovens ainda dominam, é claro: os grupos com maior inserção digital são os de 15 a 17 anos (74,1%) e de 18 ou 19 anos (71,8%).
70% das mulheres têm celular
A Pnad também investigou a posse de celulares pelos brasileiros. O estudo descobriu que, em 2011, pela primeira vez o percentual de mulheres que tinham celular ultrapassou o de homens: 69,5% das mulheres (60,3 milhões) possuíam o aparelho, contra 68,7% dos homens (55,2 milhões).
O aparelinho se disseminou durante os anos pesquisados, sua posse crescendo 107,2%, contra expansão de 9,7% na população brasileira. Em 2011, 115,4 milhões de brasileiros, ou 69,1% da população com dez anos ou mais, tinham celular. Em 2005, a proporção era de apenas 36,6%.
O desenvolvimento social não é tão determinante para a posse do celular quanto é para o acesso à internet. Estados como Goiás (77,7%) e Mato Grosso do Sul (77,2%) têm maior penetração de telefones celulares do que Rio (74%) e São Paulo (76%). Segundo o IBGE, isso reflete a dificuldade de acesso à telefonia fixa nesses locais, o que obriga a população a adotar a tecnologia móvel.
A metodologia do IBGE não é capaz de abranger o fenômeno das crianças que já estreiam na escola com seu próprio smartphone, mas mostra que 41,9% dos pré-adolescentes (de 10 a 14 anos) já têm celular. Há oito anos, a fatia era inferior à metade disso, 19,2%.

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