quinta-feira, 16 de maio de 2013


Governo deveria ter papel regulador maior no futebol, diz Aldo Rebelo       
"A seleção joga com as cores do país", justifica ministro do Esporte em entrevista, sem esconder desconforto com as denúncias contra a CBF

Portal Title           Original Deutsche Welle - 16/05/2013                                                                 
                                                                                                                José Cruz/ABr
                                    

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, participa do lançamento do Programa Atleta na Escola, no Ministério da Educação, em 7 de maio

Quanto mais a Copa do Mundo se aproxima, mais apertada vai ficando a agenda do ministro do Esporte, Aldo Rebelo – e mais intensos são os questionamentos sobre a organização. A pouco mais de um ano do Mundial, metade dos estádios ainda não está pronta, e só 25% das obras de infraestrutura, essenciais para receber bem os milhares de turistas, foram concluídas.

Em entrevista exclusiva à DW em seu gabinete, em Brasília, Rebelo admitiu que o Brasil não tem a pretensão de construir, a curto prazo, uma infraestrura como a de países desenvolvidos, mas garantiu que a Copa de 14 será bem-sucedida. Atrasos, segundo ele, de fato existem, mas também aconteceram por conta da própria Fifa.

O ministro ainda assegurou que a Copa não deixará "elefantes brancos" e melhorará a imagem do Brasil no exterior. Ao mesmo tempo, não escondeu o desconforto de ver o presidente da CBF, José Maria Marín, envolvido em uma série de denúncias de irregularidades, e defendeu uma maior intervenção do governo federal no futebol:

"A seleção joga com as cores do país, em nome do país. O governo deveria ter um papel regulador maior na atividade do futebol", afirmou.

Deutsche Welle: Ainda com tanto a fazer, como está a ansiedade para receber a Copa?

Aldo Rebelo: Nós combatemos a ansiedade com trabalho. A Copa do Mundo não tem mistério – é um padrão que se repete a cada quatro anos, com algumas atualizações e algumas mudanças. Nós naturalmente olhamos o que foi feito na Copa anterior e procuramos adaptar todo o esforço às condições do nosso país.

DW: Mas, a pouco mais de um ano da Copa, ter apenas um quarto das obras de infraestrutura prontas não preocupa?

AR: Estamos atentos ao nosso cronograma e ao calendário que estabelecemos com os governos estaduais e com as cidades-sede. A obra essencial é o estádio, ou seja, seis estádios estarão prontos para a Copa das Confederações, um ano antes da Copa do Mundo. Os outros seis queremos que fiquem prontos até dezembro. Não creio que haja propriamente atraso no calendário dessas obras.

DW: Mas houve atrasos em relação ao calendário inicial.

AR: Em relação ao calendário inicial, de fato apenas dois estádios foram entregues em dezembro. Os demais só ficaram prontos em abril e no começo de maio. Claro que gostaríamos que o prazo de dezembro tivesse sido cumprido. Mas o Brasil é um país que tem muito rigor nos órgãos de controle, que trabalham dentro dos estádios e dentro das obras. Alguns têm poder de paralisar as obras. Houve paralisação também por conta de greve. Tudo isso conduz, de fato, a um distanciamento do cronograma inicial, mas nada que comprometa a realização da Copa, porque também tivemos, em todo caso, fatos semelhantes na Olimpíada de Pequim, em Londres e na Eurocopa na Ucrânia e na Polônia.

Alguns atrasos também às vezes acontecem por parte da Fifa. A informação sobre especificações dos equipamentos que serão usados nem sempre acontece na hora. Mas acho que nem esses atrasos nem o atraso na entrega dos estádios vão comprometer a realização da Copa das Confederações em junho e da Copa do Mundo no próximo ano.

DW: Há risco de algum estádio ficar fora da Copa?

AR: Não, todos serão entregues dentro do prazo, considerando como prazo a própria Copa em 2014 e a Copa das Confederações agora em junho em 2013.

DW: Por que os valores dos estádios excederam as estimativas iniciais?

AR: Os estádios para a Copa são muito mais caros, mesmo. Vou lhe dar uma informação: o Corinthians, quando preparou e projetou seu estádio, [estimou a obra] em 400 milhões de reais. Era um estádio destinado a 40 mil torcedores por jogo. Quando passou a ser estádio para a Copa, quase dobrou de valor, porque as exigências da Fifa para receber a abertura da Copa, os chefes de Estado, um grande número de jornalistas – são mais de 18 mil repórteres credenciados – as áreas destinadas a convidados, o número de elevadores, tudo isso levou a que o estádio tivesse duplicado o preço quando deixou de ser um estádio apenas para o Corinthians. O do Palmeiras, por exemplo, que é um estádio moderníssimo e apto a receber qualquer espetáculo para 60 mil pessoas, foi projetado com custo de pouco mais de 300 milhões de reais.

DW: O governo federal demorou a entrar na participação de algumas obras?

AR: Nós não fomos convidados para integrar o comitê organizador local da Copa, começamos a integrar depois de uma conversa com a Fifa e à convite dela. As obras do governo federal são as obras de infraestrutura. Não temos nenhuma responsabilidade direta nos estádios, alguns são privados, os outros são dos governos estaduais, apenas entramos com empréstimos. E o governo federal tem tido uma participação muito atenta e eficaz no grupo executivo da Copa com a participação do Ministério do Esporte na coordenação com outros ministérios. E estamos perfeitamente integrados com a prefeituras das cidades-sede e também com estados e comitê organizador da Fifa.

DW: E as demais obras de infraestrutura?

AR: Todas as obras de mobilidade estão em execução. As que não ficarem prontas serão retiradas da matriz de responsabilidades. Mas os aeroportos estão todos em obras. Em 2014, teremos provavelmente quase o dobro da capacidade dos nossos aeroportos em relação à demanda projetada para o mesmo período. Então não teremos problema com a infraestrutura aeroportuária. Nós temos problemas com a operação dos aeroportos, mas estamos cuidado desta matéria porque não precisamos esperar a Copa do Mundo para melhorar a operação dos nossos aeroportos.

É evidente que ninguém espera que o Brasil disponha da mesma infraestrutura de que possuem Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Não temos o mesmo grau de desenvolvimento nem a mesma infraestrutura desses países – mas, dentro de nossas condições, vamos realizar uma bela Copa do Mundo.

DW: As dimensões do país tornam o trabalho mais difícil?

AR: Temos que cuidar da infraestrutura, da logística para a realização da Copa em condições muito diferentes. Há um estado como São Paulo, que já tem grandes aeroportos, malha rodoviária muito bem construída, ferrovias, metrô na cidade, um setor hoteleiro muito desenvolvido. E você tem cidades em regiões de mais difícil acesso, como Manaus. Mas estamos superando todos os obstáculos, e Manaus terá também uma bela estrutura para receber a Copa. Como Cuiabá também terá essa infraestrutura.

DW: Apesar das críticas, a Copa vai empolgar os brasileiros?

AR: Já está empolgando. A população aguarda com grande expectativa a Copa. E também esse é o espírito da população do mundo que sabe que o futebol no Brasil é como se fosse um elemento natural do país. Temos todas as condições de fazer da Copa, além de um grande espetáculo, uma grande festa de confraternização do povo brasileiro e de todos os visitantes.

DW: As recentes denúncias contra o presidente da CBF, José Maria Marín, podem arranhar a imagem desta Copa?

AR: O governo brasileiro não tem influência na escolha dos dirigentes do comitê organizador local, isso é uma escolha da Fifa, nem sobre a escolha do presidente da CBF. Por lei, o governo não pode interferir, pois essas entidades são consideradas entidades privadas.

Achamos que o esporte no país, e o futebol em particular, são assuntos de interesse nacional, de evidente interesse público, não deviam esses assuntos dizer respeito apenas a interesses privados, porque não são. É uma atividade de representação do país. A seleção joga com as cores do país, joga em nome do país. Acho que o governo deveria ter um papel regulador maior na atividade do esporte – e do futebol. Mas infelizmente, hoje não temos, no caso da presidência da CBF. Se me perguntarem se o governo fica satisfeito [com as denúncias], é claro que não. Não achamos boas essas notícias, mas não podemos fazer nada com relação a isso.

DW: O Maracanã custará mais de 1 bilhão de reais e será repassado à iniciativa privada por 5 milhões ao ano. Qual a vantagem deste contrato?

AR: Essa explicação deve e pode ser dada pelo governo do estado do Rio. O governo federal não é acionista nem participa da construção do Maracanã. Temos ali financiamento concedido em condições de mercado com todas as garantias pelo BNDES. Mas não temos participação nem na construção nem no sistema de concessão que o governo do Rio elaborou para o Maracanã. O que sei é que grandes empresas, dois grandes consórcios, com grupos econômicos muito fortes, se inscreveram para administrar um Maracanã, e não creio que fizessem isso se o Maracanã estivesse destinado a ser, como se diz aqui, um "elefante branco".

DW: O que está sendo feito de investimento no esporte visando melhorar o desempenho do Brasil em competições esportivas, como as Olimpíadas de 2016?

AR: Temos consciência de que a Copa e os Jogos Olímpicos passam pelo país, duram um, dois meses e depois vão para outro lugar do planeta. O que nós queremos, além de um bom desempenho para o país, ganhando a Copa, já que vamos ganhar em casa, e tendo uma boa participação no quadro de medalhas nas Olimpíadas, mas o que nos interessa mesmo é a herança para o país.

Ficaremos com infraestrutura esportiva no futebol e no esporte educacional, no esporte de alto rendimento, compatível com a importância desses eventos. Temos um programa de nacionalização dos benefícios da Copa e dos benefícios das Olimpíadas. A construção da profissionalização da gestão do esporte do país. Maior profissionalismo na gestão pública e também na privada. A valorização da marca do esporte, do futebol, dos clubes, dos nossos campeonatos, a internacionalização dessas marcas. A construção de uma infraestrutura mínima – dois terços dos 26 estados brasileiros não têm pista oficial de atletismo. Queremos que todos os estados tenham também pelo menos uma piscina olímpica, que nem todos têm. Esse é nosso esforço.

Estamos construindo 300 centros de iniciação ao esporte em todos os estados brasileiros. Vamos também construir no plano de nacionalização das olimpíadas 5 mil quadras nas escolas públicas, cobrir 5 mil quadras já existentes e criar consciência da população de que a prática de esporte ou mesmo a prática de qualquer atividade física é algo importante para a vida social e para a saúde de a população.

DW: A segurança no Mundial estará garantida?

AR: É lamentável que grandes eventos esportivos tenham sido marcados por tragédias, como o atentado de Boston. O Brasil está muito atento para que isso não ocorra no país. Nós trabalhamos com um esquema de segurança que envolve a Polícia Federal, temos uma Secretaria Extraordinária para Segurança de Grandes Eventos, com delegado da PF que cuida desse tema. Temos a participação do Ministério da Defesa, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Fizemos todos os investimentos. Os equipamentos foram adquiridos em grande parte para a criação dos centros de comando e controle em cada estado. Integramos a este esforço as polícias militares dos estados, e também a polícia civil dos estados. Estamos em contato com nossos vizinhos para que o Brasil se cerque de uma segurança maior a partir de suas fronteiras. Não vejo que providência a mais o Brasil pode adotar para garantir o êxito no esquema de segurança.

DW: Há investimentos suficientes para esse fim?

AR: Nós reservamos todos os recursos necessários não só para a aquisição de equipamentos, mas também para o custeio. Isso está no investimento geral da Copa. Temos em torno de 26 bilhões de reais para a Copa, e os recursos para a segurança estão incluídos neste orçamento.

DW: Uma reclamação recorrente é dos comerciantes, que só poderão vender seus produtos a uma distância de dois quilômetros dos locais dos estádios.

AR: O governo vai cumprir aquilo que assinou quando acolheu, quando se candidatou para sediar a Copa. Todos nós que assinamos na época sabemos dos compromissos que tinham sido assumidos, mas temos conversado com a Fifa sobre condições particulares da vida, da sociedade brasileira. Advertimos por exemplo para o caso de Salvador, da venda do acarajé. Para nós é importante que turistas tenham acesso a essa culinária. Como houve negociação também na Alemanha para venda da cerveja alemã ao lado da cerveja patrocinadora da Copa. Acho que é possível flexibilizar aquilo que for de comum acordo entre governo, Fifa, a cidade-sede e o governo local.

DW: Para encerrar: a Seleção vai ganhar a Copa?

AR: Acredito que sim. Há sempre alguma vantagem para o país que acolhe a Copa do Mundo. Temos o apoio da torcida, a motivação de jogar em casa. Temos grandes jogadores, talvez com a maior diversidade do planeta. Há grandes jogadores na Argentina, como o Messi, em Portugal, Cristiano Ronaldo, mas talvez o Brasil tenha um conjunto maior de jogadores muito hábeis. Tem um técnico que é um homem quem inspira os atletas, motiva, é muito experiente, que é o Felipão. Tenho confiança, para o Brasil é muito importante. É muito sofrido um país que sedia a Copa perder a Copa, principalmente na final. Já passamos por isso, outros países já passaram. A festa ficará completa com a vitória do Brasil.

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